Descrição

A água que se engolfa pelas hidrovias principais aveirenses é o espelho da cidade. Flui o Canal dos Botirões, o Canal Central, o Canal do Côjo, o Canal das Pirâmides, o Canal de São Roque e o Canal do Paraíso. Elemento primordial da personalidade do município de Aveiro, os fluxos da Ria que se alinham em ramais estreitos, devem a sua formação à economia da exploração do sal e impõem-se com graça singular na urbanidade.
O Canal Central é o eixo principal e fronteira de outrora do município, dividindo a cidade em duas áreas. De um lado Vera Cruz, berço dos “cagaréus”, aqueles que nasciam na beira-mar; de outro, a Glória, zona dos “ceboleiros”, pelo facto de a terra deste lado ter sido mais arável para os campos de cebolas. Hoje essa divisão não existe mais, sendo o Canal Central apenas uma linha entre os dois lados, no horizonte de uma cidade que gosta de se reinventar, mantendo a tradição como ponto de partida para o futuro. É nesta linha de Ria que se vislumbra a riqueza dos edifícios de Arte Nova (início do século XX), como o próprio Museu de Arte Nova e a Casa de Chá, símbolos claros de como a cidade se mostrou recetiva à inovação e à modernidade. São edifícios que imprimem na cidade elegância e harmonia, rendilhando a paisagem com ferro forjado, pedra articulada, esculpida e janelas simétricas, que sustentam a geometricidade de Aveiro.
Já o Canal do Côjo, uma espécie de irmão do Canal Central, pela evidente ligação, impõe-se o imponente edifício da Antiga Capitania, hoje sede da Assembleia Municipal, edificado no leito da Ria. Este é um canal acompanhado de pequenas pontes que fazem a ligação de um lado ao outro, assim como de passeios por onde caminham, descontraidamente os aveirenses.
Esta é também a zona comercial do Fórum Aveiro, e ponto de acesso à zona central da cidade, uma vez que no final deste eixo hidroviário se encontra a antiga Fábrica de Cerâmica Campos, hoje reabilitada como Centro de Congressos de Aveiro.
Já mais próximo da formação lagunar da Ria situa-se o Canal de São Roque, com cerca de dois quilómetros de extensão, ladeado pelo antigo bairro dos pescadores, a zona da Beira-Mar, com as tradicionais casas revestidas com azulejos tradicionais, onde se encontram os antigos palheiros que serviam para armazenar o sal. A ligação entre as duas margens é feita pela emblemática ponte de Carcavelos (1953), também conhecida como ponte dos namorados, pelo facto de ser local privilegiado para se contemplar o pôr-do-sol. Em direção à Ria, é inevitável não perceber a imponente ponte pedonal circular, mais conhecida por Ponte do Abraço ou Ponte do Laço (2006), que liga as quatro margens dos dois canais, São Roque e Botirões, unindo o Canal da Praça do Peixe ao Canal de São Roque, que engloba as margens dos Cais dos Mercantéis e do Cais dos Botirões. Esta área hoje reabilitada tem uma zona pedonal e ciclável junto às margens do ramal hidroviário, pintando uma das imagens mais emblemáticas
da cidade de Aveiro. E já que se menciona o caráter simbólico da paisagem, não é de admirar, por isso, que o canal mais próximo da Ria, porta de entrada na cidade e onde desemboca o Canal Central, se denomine por Canal das Pirâmides, assim conhecido devido aos pináculos existentes à entrada do canal, junto às eclusas, numa evidente alusão à forma geométrica que predomina na paisagem durante o verão: o sal. Percorrê-lo, numa extensão que segue até à antiga

Texto: Livro Aveiro, Cidade dos Canais

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